Dia 24/01, 15:00 horas, começava um espetáculo que me surpreendeu absurdamente: "Expedição Pacífico" (no Festival Em janeiro teatro pra criança é o maior barato, em São José do Rio Preto, SP). Quanta delicadeza, quanta informação, quanta realidade sem que nenhuma palavra tivesse de ser dita. Minha filha, Luisa, tem apenas 6 anos e se impressionou com a peça. Primeiro por não haver falas, segundo porque os personagens estavam com fome e não tinham o que comer, depois com a magia da imaginação que transformava plástico em quase tudo o que se queria. Riu com a galinha, maravilhou-se com a bailarina, surpreendeu-se com outros animais e desesperou-se com a gaivota coberta de óleo. Sim, desesperou-se, chorou e não conseguia entender por que estavam sujando o oceano. Mais ao fim do espetáculo, quando a esperança havia brotado da semente e os personagens estavam finalmente felizes embaixo da árvore, veio um mar de lixo e ela voltou a chorar e a não querer ver uma montanha de plástico se formar no oceano. Conheço minha filha, ela chorava mesmo, não era exagero dela. De repente, tudo o que sempre conversamos sobre a necessidade de preservar a natureza, de reciclar e de não consumir tanto passou a fazer sentido para ela, pois até então era algo distante dela, um discurso somente. "Expedição Pacífico" foi um choque de realidade que mostrou ser verdade tudo o que eu e o pai dela falávamos. E ela entendeu, mas creio que também se sentiu impotente, porque viu que o lixo era muito. Terminada a peça, fomos tirar fotos com os atores (Gabriel e Rogério) e ela ainda chorava. O que posso dizer? Os dois foram muito carinhosos com a Luisa, consolaram-na e disseram que é possível fazer algo, que se cada um fizer sua parte, a poluição vai acabar. Depois da conversa, ela se acalmou, mas reforcei a ideia de que os personagens não tinham nem mesmo o que comer e que sofriam por conta do consumismo de todas as outras pessoas, que para eles sobrava apenas o lixo, mas que plástico não se come. Falei sobre dividir e ela, que comia um lanchinho, olhou para a comida e disse: "Devia ter divido com eles, eles ainda estão com fome". Parabenizo pelo lindo trabalho, nós amamos.
Cristiane (mãe da Luisa de São José do Rio Preto) - 27/01/2017